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Livro 1984 e as Big Tech: A Distopia de Orwell no Mundo Digital

  • Foto do escritor: Daniela Bernardo
    Daniela Bernardo
  • 28 de jan.
  • 3 min de leitura
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A obra 1984, de George Orwell, publicada em 1949, tornou-se uma referência essencial para compreender os perigos do totalitarismo e da manipulação da informação. Se, no passado, as preocupações estavam centradas em regimes políticos autoritários, hoje, muitos dos conceitos orwellianos encontram paralelos no avanço das Big Techs (grandes empresas de tecnologia), que exercem um controle sem precedentes sobre dados, comunicação e privacidade.


O "Big Brother" e a Vigilância Digital


No romance, o governo da Oceânia controla a população por meio da onipresente vigilância do Grande Irmão (Big Brother), que monitora cada movimento dos cidadãos. No mundo contemporâneo, não há necessidade de uma figura totalitária explícita: gigantes da tecnologia, como Google, Facebook (Meta), Amazon e Microsoft, possuem algoritmos capazes de rastrear e prever o comportamento humano.


Com a justificativa de personalizar experiências e otimizar serviços, essas empresas coletam dados sobre hábitos de consumo, interações sociais e até estados emocionais. A coleta de informações através de assistentes virtuais (Alexa, Siri), aplicativos de redes sociais e até câmeras de segurança conectadas reflete uma forma de vigilância constante, onde os usuários deixam rastros digitais que podem ser usados para fins comerciais, políticos e até coercitivos.


"Novafala" e o Controle da Informação


Outro conceito central de 1984 é a "Novafala", uma linguagem artificial criada para restringir o pensamento crítico e eliminar palavras que possam inspirar oposição ao Partido. No contexto das Big Techs, a manipulação da linguagem ocorre através de algoritmos que filtram conteúdos, promovem certas narrativas e reduzem o alcance de vozes divergentes.


A censura algorítmica já foi denunciada em diversas ocasiões, principalmente no que se refere a temas políticos e sociais. Plataformas como YouTube e Twitter (X) frequentemente são acusadas de favorecer determinados discursos e limitar a visibilidade de outros, muitas vezes sem transparência nos critérios adotados. O conceito de "fake news" também se tornou um campo de disputa, onde grandes empresas assumem o papel de árbitros da verdade, decidindo quais informações são permitidas e quais devem ser ocultadas.


O "Duplipensar" e a Cultura do Algoritmo


O "Duplipensar", descrito por Orwell como a capacidade de aceitar simultaneamente duas ideias contraditórias, se reflete na forma como as Big Techs operam. Empresas como Facebook (Meta) e Google promovem discursos sobre privacidade e segurança digital, ao mesmo tempo em que acumulam enormes volumes de dados de seus usuários e lucram com sua comercialização.

Outro exemplo do duplipensar digital ocorre nas políticas de moderação de conteúdo. Redes sociais pregam liberdade de expressão, mas mantêm diretrizes subjetivas que podem ser usadas para remover conteúdos conforme seus próprios interesses comerciais ou políticos. Essa contradição reflete o paradoxo orwelliano: liberdade e censura coexistem, assim como, no livro, a "Liberdade é Escravidão".


A Manipulação da Memória e os "Fatos Alternativos"


Em 1984, o protagonista Winston Smith trabalha no Ministério da Verdade, onde reescreve a história para que ela esteja sempre alinhada aos interesses do Partido. No mundo atual, a reescrita da memória coletiva ocorre de maneira mais sutil, mas igualmente poderosa.


Os algoritmos das Big Techs promovem conteúdos conforme a relevância comercial e política, enquanto enterram ou limitam informações consideradas inconvenientes. Esse controle sobre o que é visto e lembrado faz com que determinados eventos sejam amplificados e outros, esquecidos. A própria ascensão do termo "pós-verdade", onde a emoção tem mais impacto do que os fatos objetivos, mostra que a realidade pode ser moldada conforme os interesses de quem controla os meios de informação.


O Futuro Orwelliano das Big Techs


Se em 1984 a opressão era exercida por um governo autoritário, hoje ela se manifesta na forma de capitalismo de vigilância, onde usuários voluntariamente cedem seus dados, muitas vezes sem perceber a extensão desse controle. A ilusão de liberdade é mantida enquanto a influência das Big Techs cresce, moldando opiniões, hábitos de consumo e até eleições.


A distopia de Orwell já não parece uma possibilidade distante. A combinação de vigilância digital, manipulação algorítmica e controle narrativo mostra que a luta pela privacidade e pela informação livre continua sendo um dos desafios mais urgentes da sociedade contemporânea. O livro 1984 serve, assim, como um alerta atemporal, reforçando a necessidade de questionar quem controla a informação e até que ponto estamos dispostos a trocar privacidade por conveniência.

 
 
 

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